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Publicado em 17/01/2019

Crédito deve ter melhor resultado em cinco anos (Valor Econômico)

Com a demanda de empresas voltando a crescer, o mercado brasileiro de crédito deve ter em 2019 seu melhor desempenho em cinco anos. Projeções de economistas e do Banco Central (BC) indicam um aumento de 1,8% a 6%, em termos reais, do estoque de empréstimos e financiamentos a pessoas físicas e jurídicas nos próximos 12 meses.

A expectativa é a de que, diante de um cenário político e econômico mais claro, as companhias acelerem a produção e comecem, finalmente, a desengavetar planos de investimentos. Enquanto isso, as linhas para famílias devem continuar a trajetória de recuperação que começou a despontar já no fim de 2017.

"A perspectiva para o crédito não é dissociada desse otimismo que permeou a economia depois das eleições", diz Alberto Ramos, diretor do departamento de pesquisas econômicas do Goldman Sachs para América Latina. Ele espera um crescimento de cerca de 6%, já descontada a inflação, no estoque de operações neste ano.

O ambiente mais favorável também é perceptível numa disposição maior dos bancos para emprestar recursos. As grandes instituições financeiras do país vêm se mostrando mais dispostas a tomar risco conforme os índices de inadimplência vão voltando à normalidade.

"À medida que o risco político e a nebulosidade na economia diminuem, os bancos reduzem o spread bancário, e o crédito fica mais barato para as pessoas físicas e jurídicas", diz Bruno Lavieri, economista da 4E Consultoria. Nas projeções calculadas pela casa, o saldo total de crédito cresce 2,2% neste ano, em termos reais, sendo 2,6% de avanço entre as pessoas físicas e 1,6% nos empréstimos para as empresas.

O avanço no crédito não significa que as instituições financeiras vão abrir as torneiras de forma generalizada. Os bancos têm priorizado linhas de baixo risco e boa estrutura de garantias, como consignado, veículos e financiamento imobiliário, no caso das pessoas físicas. Nos empréstimos às empresas, o foco são as operações atreladas a recebíveis como os de cartão de crédito. O crédito "careca", sem colateral, praticamente sumiu do mercado e dificilmente voltará tão cedo.

Da mesma forma, as linhas de crédito oferecidas às grandes companhias são de prazo mais curto do que no passado - consequência de regras mais duras para o capital dos bancos e do baque provocado pelo calote de alguns dos maiores grupos empresariais do país nos últimos anos.

Por isso, a tendência é que o mercado de capitais continue sendo um caminho para as grandes empresas que precisam de dinheiro de longo prazo, até porque a fonte de recursos baratos do BNDES também secou.

"O crédito às pessoas jurídicas cresce num ritmo menor do que o da pessoa física porque houve muitos fechamentos de empresas na crise e, entre as que sobreviveram, muitas estão buscando fontes alternativas, como por exemplo o financiamento direto a fornecedores ou o mercado de capitais", disse Nicola Tingas, economista-chefe da Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento (Acrefi).

O economista da associação prevê expansão real de 2,9% no crédito a empresas e de 9,2% no de pessoas físicas neste ano. O PIB, segundo a Acrefi, deve crescer 3%.

A expansão do crédito em 2019 deverá ser impulsionada pelas instituições financeiras privadas e em operações com recursos livres, uma vez que o desequilíbrio fiscal tem feito o governo recuar nas concessões com recursos direcionados, mais concentrados em bancos públicos. Ao mesmo tempo, a manutenção da taxa Selic em patamar historicamente baixo - 6,5% ao ano - ajuda a tornar o crédito livre mais competitivo.

Foi o que já se viu no ano passado. No fim de novembro, o saldo de crédito com recursos livres somava R$ 1,715 trilhão, o que representa uma alta nominal de 10,4% em um ano. Enquanto isso, o direcionado encolheu 1,8%, para R$ 1,487 trilhão. Os dados relativos a 2018 como um todo serão conhecidos no fim de janeiro.

A diferença é que, neste ano, o crédito direcionado deve voltar a crescer, embora de forma modesta. O BC prevê aumento nominal de 6% do volume total de empréstimos e financiamentos em 2019, o que embute uma alta de 10,5% no saldo de operações com recursos livres e de 1% no direcionado.

A economista Isabela Tavares, da Tendências, observa que a recuperação do crédito direcionado vem acompanhada de uma mudança na atuação do BNDES. "O banco está se voltando mais para micro, pequenas e médias empresas, e essa mudança de perfil deve continuar a ser vista em 2019", afirma.

A diferença de desempenho entre operações com recursos livres e direcionados é vista com bons olhos por economistas, pois ajuda a política monetária ganhar eficácia e o mercado de capitais a se desenvolver mais rapidamente.

Outro aspecto positivo do novo ciclo de crédito é que ele tem bases mais sustentáveis que o vivido durante "boom" de consumo da década passada. Entre essas características, está uma menor alavancagem da economia frente ao histórico recente. A relação entre crédito e PIB, que chegou a 54% no fim de 2015, está em torno de 46%. Analistas de renda variável do Goldman Sachs enxergam espaço para essa fatia crescer cinco pontos percentuais no médio prazo.

Em paralelo, há um peso menor do serviço da dívida (juro mais principal) para as famílias com a Selic mais baixa. Isso se nota principalmente no financiamento imobiliário, em que o peso chegou a ser de 21,4% da renda em 2011, mas caiu para 17,5%.

"Com os spreads atuais, qualquer crescimento na renda familiar (derivado de uma queda no desemprego, por exemplo) pode se transformar em uma aceleração sustentável no crescimento do crédito", diz o Goldman Sachs em relatório a clientes.

 

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