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Publicado em 10/04/2018

Longe da Pátria (Veja)

Os países são expressões geográficas e os Estados são formas de equilíbrio político. E a Pátria é sin­cronismo de espíritos e corações, aspiração à grandeza, comunhão de esperanças. Enquanto um País não é Pátria, seus habitantes não formam uma Nação. Este breve resumo, pinçado de um dos mais belos ensaios sobre a mediocridade, de autoria de José Ingenieros, cai bem nesse momento em que o discurso do ódio ecoa por toda a parte. 

Teremos um processo eleitoral que fluirá em ondas de impropério e em grossas camadas de fake news, alimentadas por grupelhos contratados para sujar perfis.

O desenho na paisagem é feio. Tensões amplificam uma guerra surda entre Poderes. O Judiciário, até então elevado aos píncaros da respeitabilidade, deixa ver querelas entre seus membros, como se fosse um arquipélago de 11 ilhas, cada qual com seus arsenais desferindo estocadas recíprocas.

O Executivo, esforçando-se para pôr a máquina em funcionamento, tenta fazer o milagre da multiplicação dos pães, dispondo recursos para programas e emergências, como o caos da insegurança no Rio de Janeiro. Os quadros do Legislativo procuram se ajustar à realidade eleitoral, onde teremos campanhas curtas e mais competitivas.

Interrogações se multiplicam. Quem serão os candidatos? A descrença nas instituições se espraia vertiginosamente, sob a teia de imoralidade que se descobre no bojo da Operação Lava Jato. Injustiças ganham corpo, com prisões arbitrárias feitas sob a justificativa de se ouvir depoimentos.

A barbárie continua a se embrenhar no meio de nossas mazelas. A modernidade que se enxerga nos grandes centros e no interior, simbolizada por avanços da eletrônica, pela capacidade de produzir bens e serviços sofisticados, pela revolução nas comunicações, na moda e nos costumes, não consegue passar a borracha no nosso analfabetismo funcional (que atinge 25% de brasileiros), na violência e na ambição. Desintegram-se padrões de relacio­namento social, devastando valores fundamentais, como o culto à família, o cumprimento do dever, o respeito às tradições e a defesa do bem comum. Estamos distantes da Pátria, o abrigo de nossos mais puros sentimentos.  

A violência deixa o terrível saldo de 66 mil mortes por ano, vítimas de arma de fogo. Aparatos policiais encontram-se deteriorados. É verdade que o país, em menos de um ano, saiu da mais profunda recessão econômica da contemporaneidade, e importantes reformas foram feitas para fechar o buraco que o dilmismo abriu no território. Mas não escapamos à desordem que sacode o mundo.

Vê-se uma inversão moral, algo que Samuel P. Huntignton designa como o paradigma do “puro caos”: a ruptu­ra da ordem, a anarquia crescente, a onda de criminalidade, a debilitação geral da família e o declínio na solidariedade.

O momento se presta a uma assepsia. O corpo parlamentar a ser eleito há de se conscientizar que mandato ganho nas urnas pertence ao povo. O País precisa reinstalar o império do respeito. A fé precisa volta a brotar nos corações.

Gaudêncio Torquato, jornalista, é professor titular da USP, consultor político e de comunicação.

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