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Publicado em 09/07/2020

Crise faz crédito bancário superar captação no mercado no 1º trimestre (Valor Econômico)

Medidas emergenciais para atenuar os efeitos da pandemia na economia tomadas pelo Banco Central em março, que injetaram mais de R$ 1 trilhão em liquidez no sistema bancário, e a “corrida” de grandes companhias, muitas com empréstimos pré-aprovados, para acessar instituições financeiras fizeram a captação líquida de recursos pelas empresas via crédito bancário livre superar o volume levantado com a emissão de ações e títulos de dívida no primeiro trimestre deste ano, impondo ao menos uma pausa ao avanço das captações no mercado de capitais observado nos dois últimos anos.

Levantamento do Centro de Estudos de Mercado de Capitais (Cemec-Fipe) mostra que, de janeiro a março, os empréstimos bancários líquidos (descontados os vencimentos) com recursos livres somaram R$ 74,8 bilhões, alta de 32% em relação aos três últimos meses do ano passado - no primeiro trimestre de 2019, o saldo entre pagamentos e novas operações bancárias ficou negativo em R$ 6,1 bilhões.

No ano passado, em todos os trimestres, o volume de captação líquida das empresas no mercado de capitais superou o observada no crédito bancário. No primeiro trimestre deste ano, porém, não passou de R$ 922 milhões. Embora tenha caído pela metade em relação ao fim de 2019, a emissão de ações sustentou resultado positivo de R$ 8,1 bilhões no primeiro trimestre deste ano. Mas as operações com dívida corporativa, que atingiram R$ 52,3 bilhões no quarto trimestre de 2019, registraram contribuição negativa de R$ 7,2 bilhões no caixa das empresas.

“Normalmente, primeiros trimestres são mais fracos para crédito bancário livre. Isso mostra que as medidas do BC foram extremamente robustas, geraram ampliação forte de crédito às empresas”, afirma Carlos Antonio Rocca, coordenador do Cemec.

Com isso, o valor líquido captado pelas empresas via crédito bancário com recursos livres, que encerrara 2019 em R$ 91,3 bilhões, saltou 88,6% nos 12 meses até março, para R$ 172,2 bilhões, empurrando o total das operações (considerando as múltiplas fontes de recursos) de R$ 184,8 bilhões para R$ 237,8 bilhões. No sentido contrário, as captações líquidas no mercado de capitais caíram 10% nos 12 meses até março, ante 2019, embora ainda representem o maior volume (R$ 192,2 bilhões).

Segundo Rocca, é possível que, além da demanda por caixa para atender compromissos num momento de queda das vendas por conta da paralisação das atividades, grandes empresas tenham feito em março o esforço de antecipar recursos para aumentar liquidez, prevendo o aprofundamento da crise nos meses seguintes. “As operações de crédito bancário não continuaram crescendo em abril e maio com o mesmo ímpeto de março”, diz. A desaceleração é até natural, já que, conforme as empresas ampliam a captação, também aumentam seu endividamento, elevando a percepção de risco diante dos bancos, ele explica.

Também por isso, bem como pela recente melhora no mercado de capitais, Rocca afirma que a “corrida” das empresas ao crédito bancário é pontual. “Lógico que houve ruído, o pessoal tomou consciência de que há limites de liquidez, mas acho que a tendência de crescimento do mercado de capitais, que começou em 2017, está dada.”

O economista observa, inclusive, que são as empresas de porte maior que captavam junto ao BNDES que, em geral, colocaram-se no mercado de capitais e, agora, conseguiram acessar recursos nas instituições financeiras. A evolução do saldo das operações de crédito bancário entre fevereiro, mês anterior às medidas do BC, e abril mostra crescimento de 11% para empresas grandes e de apenas 2,1% entre as pequenas, segundo o estudo.

O aprofundamento dessas diferenças agora é delicado porque ocorre sobre um processo de anos. Em abril de 2012, os saldos de crédito bancário das micro, pequenas e médias empresas (R$ 577 bilhões) e das grandes (R$ 564,7 bilhões) eram praticamente iguais, observa o Cemec. Em abril deste ano, o saldo das MPMEs somava R$ 553 bilhões, queda de 4,2% ante 2012, enquanto para grandes empresas cresceu 77,5%, ao redor de R$ 1 trilhão.

A trajetória oposta se acentua em meados de 2017, indicando, segundo Rocca, que pode existir correlação entre o aumento da inadimplência para MPMEs e uma subsequente queda no crédito oferecido a elas. A participação de “ativos problemáticos” de MPMEs nas carteiras dos bancos dobrou de 7% no fim de 2013 para 15% em meados de 2017.

Processos assim, que alimentam um ciclo vicioso, podem se repetir agora. “Você teve um choque externo, queda na demanda, no caixa das empresas, isso acarreta aumento da inadimplência e do risco de crédito. Para se defender, bancos apertam critérios de concessões, mas a restrição adicional pode fazer com que empresas que antes teriam condições melhores também sofram, é uma hipótese”, diz Rocca. Por isso, ele ressalta a importância de medidas do BC para reforçar garantias, por exemplo. “Estamos em julho, já teve muito fechamento de empresa. A pandemia foi um evento totalmente imprevisto, mas teria sido muito melhor se os programas já tivessem saído de modo que pudessem ter sido mais eficientes até agora.”

Em nota, Rubens Sardenberg, diretor de economia, regulação prudencial e riscos da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), diz que as instituições estão sensíveis às necessidades das micro e pequenas empresas. Segundo ele, novas contratações, renovações de contratos e o saldo devedor de repactuações ao segmento somam R$ 154,2 bilhões na pandemia. “A Febraban entende que a demanda por novos financiamentos ainda não foi plenamente atendida”, afirma, acrescentando que novas medidas do BC reconhecem a necessidade de mais esforços para canalizar recursos às pequenas empresas.

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