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Publicado em 27/06/2017

Crédito sindicalizado volta a ficar atrativo para empresas com baixo risco (Valor Econômico)

Depois de um começo de ano fraco, as operações de crédito sindicalizado, realizadas por meio de um consórcio de bancos, voltam a ser uma opção para as empresas brasileiras com uma boa avaliação de risco levantarem recursos no exterior.

No primeiro semestre, com a forte demanda do investidor por títulos de crédito, as empresas preferiram buscar o mercado de capitais externo, que permite captar recursos por prazos mais longos. Com o aumento da incerteza política após o presidente Michel Temer ter sido citado diretamente na delação dos executivos da JBS, contudo, o custo para emitir bônus subiu, tornado o mercado de crédito no exterior mais competitivo.

A Vale, que em fevereiro levantou US$ 1 bilhão com a reabertura de um bônus de dez anos, fechou no início de junho uma linha de crédito rotativo de US$ 2 bilhões pelo prazo de cinco anos. A operação contou com a participação de um sindicato formado por 18 bancos. Já a Biosev fez, em maio, a rolagem de uma linha de crédito de US$ 318 milhões que venceria em 2018 para abril de 2020.

No primeiro trimestre, segundo estimativas do mercado, as operações de empréstimo sindicalizado para empresas brasileiras somaram cerca de US$ 50 milhões. Boa parte desse volume refere-se ao aumento do limite, no valor de cerca de US$ 35 milhões, de um empréstimo sindicalizado para a empresa de data center Ascenty .

No ano passado, a companhia captou US$ 155 milhões com um grupo de bancos, entre eles o ING, linha que foi ampliada neste ano para US$ 190 milhões, com a entrada de mais dois bancos na operação, que tem vencimento em cinco anos. Os recursos captados serão investidos na construção de data centers no Brasil.

O ING ainda fechou, em maio, a extensão de um empréstimo sindicalizado para outra empresa brasileira no valor de US$ 200 milhões para o prazo de três anos. Com as novas transações a expectativa do mercado é superar o total de US$ 4 bilhões registrado em 2016.

“Hoje as operações de crédito sindicalizado têm saído com prazo médio de três a cinco anos. Acima disso é mais difícil e só com estrutura de garantias”, afirma Samuel Canineu, diretor responsável por empréstimos sindicalizados para Américas do ING.

Em geral, os prazos no mercado de crédito sindicalizado ficam abaixo das captações no mercado de bônus e têm saído com vencimentos similares aos praticados no Brasil. “A diferença é que o mercado bancário no Brasil é muito concentrado. Se a empresa precisa captar mais de US$ 1 bilhão pode ser mais barato fazer a operação lá fora, onde um número maior de bancos pode participar da transação. Mas esse acesso é restrito a um universo pequeno de empresas de primeira linha”, afirma Ignacio Lorenzo, superintendente executivo de crédito sindicalizado e financiamento de aquisições do Santander Brasil.

Para Lorenzo, operações que não saíram no ano passado devem vir a mercado neste ano. “O segundo semestre deve ser melhor que o primeiro”, afirma.

Com a perda do grau de investimento do Brasil, os bancos que costumavam participar desse tipo de operação reduziram o limite de crédito para Brasil. “Antes havia 50 bancos com apetite para Brasil, hoje esse número caiu para metade”, diz Canineu, do ING.

Além disso, a recessão econômico nos últimos dois anos reduziu a necessidade de as empresas brasileiras captarem novos recursos, buscando apenas rolar as dívidas existentes. Para se ter uma ideia da queda do volume de operações nesse mercado, em 2015 os empréstimos sindicalizados para empresas brasileiras chegaram a movimentar US$ 15 bilhões.

Segundo Canineu, os bancos têm buscado reduzir o risco Brasil. O foco hoje está em operações de financiamento a subsidiárias de multinacionais com presença no país, companhias brasileiras com operação fora do país ou exportadoras, ou ainda aqueles que atuam em setores econômicos anticíclicos como papel e celulose e alimentos e bebidas, menos atingidos pela crise. Fora desses setores, os bancos estão mais exigentes com relação a estrutura de colateral, e demandado mais garantias para fechar a operação.

No caso das empresas que estão sendo investigadas, mas que não têm problema operacional, como a JBS e Braskem, os bancos estão negociando apenas a renovação das linhas, incluindo cláusulas de proteção aos credores que preveem a aceleração da dívida em caso de problemas de reputação, como o fechamento de acordos leniência. “Não está saindo crédito novo para essas empresas, no máximo a rolagem de linhas existentes. Mas essas operações têm sido bilaterais”, afirma um executivo.

O diretor responsável pela área de renda fixa do Credit Suisse, Guilherme Lago, afirma que nos últimos três anos não só o apetite dos bancos tradicionais para atuar no mercado de empréstimo sindicalizado diminuiu como o número de empresas com as quais eles estão dispostos a operar também se reduziu. “Hoje eu diria que apenas umas 30 empresas brasileiras de primeira linha têm acesso a esse mercado a condições competitivas”, destaca.

Nesse cenário, o Credit Suisse tem olhado para “bolsões de liquidez” fora desse mercado de bancos tradicionais europeus e americanos, buscando investidores no Oriente Médio e Ásia. O banco está trabalhando junto a três a quatro bancos em um empréstimo sindicalizado de US$ 2 bilhões para o setor de energia pelo prazo de 16 anos, que contará com garantia de uma agência de crédito à exportação chinesa. Lago diz ainda que tem conseguido fechar operações sindicalizadas de US$ 100 milhões a US$ 500 milhões com instituições da região.

Com alta liquidez no mercado financeiro lá fora e taxas de juros ainda em patamares muito mais baixos que no Brasil, a captação de recursos no exterior ainda se mostra interessante para algumas empresas brasileiras, mesmo incluindo na conta o custo de fazer o hedge cambial.

Em geral, os empréstimos sindicalizados são contratados a um custo de Libor, que está abaixo de 2%, mais um spread, que depende do risco do país e da empresa. “De maneira geral, se fizer uma operação de swap de três anos de Libor para reais ainda sai mais barato que o CDI”, afirma Canineu, do ING.

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