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Publicado em 30/06/2020

Como transferência por app, contas digitais e carteiras virtuais mudam o sistema financeiro? (Valor Invest)

Não é de hoje que a tecnologia permitiu que inúmeros serviços financeiros fossem feitos por meio do smartphone. Além dos aplicativos dos bancos, surgiram muitos outros, que permitem que você crie uma conta digital, faça transferências por meio de apps como o WhatsApp e até realize pagamentos em lojas físicas sem precisar de dinheiro ou cartão.

Ainda que essas mudanças já estejam acontecendo há algum tempo, muita gente ainda não conhece nem entende todas essas funcionalidades, o que elas mudam na forma como as pessoas se relacionam com dinheiro. Por isso, o ValorInveste.com conversou com alguns especialistas para explicar a evolução nos meios de pagamentos e suas consequências para os usuários e para o sistema financeiro.

Embora o papel da tecnologia seja muito importante (afinal, a maioria das novidades se encontra nos smartphones), foi uma mudança feita pelo Banco Central que permitiu que isso tudo pudesse acontecer. A Lei 12.865-2013 permitiu que empresas que não são banco, operassem contas. Trocando em miúdos, isso permitiu que surgissem fintechs de contas digitais, como PicPay, Mercado Pago e até a NuConta (antes do Nubank virar banco).

Essas contas funcionam como um lugar para você guardar seu dinheiro (real) virtualmente. Por elas, você consegue fazer transferências de dinheiro em tempo real para outros usuários da mesma conta, além de outras funcionalidades particulares de cada uma. Algumas, por exemplo, permitem que você use o saldo delas para fazer recarga de celular ou do bilhete único ou pague por serviços de outros apps como Uber e iFood. Outras funções são úteis na hora de comprar on-line (afinal, muitos e-commerces aceitam pagamento via PayPal ou Mercado Pago, por exemplo).

Segundo Adrian Kemmer Cernev, pesquisador de meios de pagamento da Fundação Getulio Vargas (FGV), uma das principais características das fintechs é ir acrescentando novas funções às contas conforme a demanda do usuário, até elas ficarem mais robustas.

A NuConta, do Nubank, é um dos exemplos mais populares. Ela surgiu como uma conta digital semelhante ao PayPal, permitindo que os usuários da conta fizessem transferências entre si. A principal atratividade, no entanto, era o rendimento automático. Com o tempo, porém, a NuConta ganhou novas funcionalidades, como pagamento de boletos, até saques nos caixas eletrônicos da rede Banco24horas e TEDs gratuitos.

Algumas dessas contas, inclusive, ficam robustas o suficiente para se tornar a principal conta do cliente. "O consumidor que antes fazia um TED pago no banco, agora pode fazer um gratuito na NuConta ou Mercado Pago. Então, é uma receita que o banco perde. Portanto, o surgimento dessas contas é um fenômeno que traz concorrência a um setor que não tinha concorrência antes, o bancário", afirma o professor Paulo Furquim, pesquisador do Insper.

Aplicativos entrando no jogo

A possibilidade de empresas que não são bancos operarem essas contas digitais, abriu espaço para que companhias de outros setores também se interessassem. E, nesses casos, a ameaça aos 'bancões' fica ainda maior.

O exemplo mais recente foi o anúncio da nova ferramenta do WhatsApp, que permitiria que pessoas transferissem dinheiro por meio do seu aplicativo. Inicialmente, o serviço só estaria disponível para clientes de determinados bancos e bandeiras de cartão. Afinal, seria dessas contas que o dinheiro enviado sairia, e quem estivesse recebendo, também deveria receber em uma dessas contas. Mas, segundo os especialistas, as ambições do aplicativo seriam maiores: também oferecer uma conta digital.

"No PayPal, por exemplo, você inicialmente precisava cadastrar uma conta ou um cartão, que é de onde o dinheiro vai sair para entrar nela. Afinal, o dinheiro é real e precisa sair de alguma origem, certo? Mas depois que você colocou dinheiro lá, você pode apagar essa conta bancária e cartão associado. E aí, ele fica guardado no PayPal e você pode usá-lo da forma que quiser. A ideia do WhatsApp seria semelhante. Embora inicialmente você precise transferir o dinheiro de alguma conta para lá, depois você poderia usar a conta do WhatsApp normalmente, mandando dinheiro para outras contas do WhatsApp e depois até fazendo pagamentos ou outras funcionalidades que o WhatsApp fosse acrescentando", afirma o professor Cernev, da FGV.

A funcionalidade do WhatsApp, no entanto, foi suspensa após pedidos do Banco Central e do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). A justificativa era de uma "ameaça à competição do mercado", afinal, o app tem 120 milhões de usuários, o que ameaça fintechs de meios de pagamentos.

"Para você usar contas como o PicPay, Mercado Pago ou Nubank, você precisa baixar um aplicativo, criar essa conta. O WhatsApp, não. Afinal, todo mundo já tem e usa ele. Daí a vantagem que ele tem sobre os demais", afirma Cernev.

A medida que funcionalidades como essas ganham espaço, não são só os bancos que acabam ameaçados. Empresas como as tradicionais credenciadoras de cartões (donas das "maquininhas" como a Cielo e Rede) também podem sofrer. Isso porque muitas dessas empresas estão desenvolvendo soluções para os lojistas. Um exemplo, é o pagamento via QR Code oferecido pelo Mercado Pago (que também tem um "braço" que funciona como uma credenciadora).

"Em um contexto como esse, as credenciadoras e bancos podem sair perdendo. Hoje, para se fazer transações, ainda depende-se muito dessas empresas. Mas no futuro, conforme essas fintechs forem ganhando adeptos, várias transações acontecerão dentro do próprio ambiente dos aplicativos, com uma pessoa mandando dinheiro para a outra, sem precisar de um intermediador", afirma Furquim, do Insper.

Cernev, da FGV, concorda e destaca que hoje ainda há dificuldade para transacionar dinheiro de uma conta digital para a outra, mas lembra que uma ação do Banco Central pode mudar isso.

"Você hoje não consegue mandar dinheiro do Mercado Pago para o PicPay. Ainda é restritivo. Mas a novidade é que em novembro o BC vai promover o lançamento da interoperabilidade de todas essas fintechs, com o PIX", explica Cernev.

Segundo Cernev, o PIX será o sistema de pagamentos instantâneos. Em resumo, ele é uma nova ferramenta para fazer transferências de dinheiro e pagar contas de forma mais rápida, sem esperar o horário de funcionamento dos bancos.

"Se uma fintech ou um banco tiver mais de 500 mil usuários, o que é relativamente pouco, ele é obrigado a aderir ao PIX. E ele é basicamente colocar um botãozinho no aplicativo para eu mandar dinheiro para outra pessoa. Ao invés de ser um TED, será pelo PIX. A diferença é a rapidez e o horário, já que ele funcionará 24 horas por dia e sete dias por semana", afirma.

O PIX, no entanto, terá, assim como o TED, um custo por transação. "Mas isso vai depender da relação do cliente com aquele banco. Não tem cliente que tem uma conta com TED gratuito? Vai ser a mesma coisa", afirma Cernev.

E as wallets? Onde entram?

Por fim, nessa gama de novas ferramentas entram ainda as carteiras virtuais, chamadas de 'wallets'. Aplicativos como o Samsung Pay e Apple Pay são exemplos dessas funcionalidades. Nesse caso, eles nada mais são do que um facilitador.

A função deles é que você use seu smartphone como uma carteira. Ao entrar em uma loja e fazer uma compra, por exemplo, basta acessar o aplicativo e aproximar seu celular da maquininha de cartão para fazer o pagamento, ao invés de usar o cartão. Para isso, você precisará cadastrar uma conta ou um cartão no app (que é de onde o dinheiro vai sair quando você fizer o pagamento).

"Elas são apenas 'wallets', você cadastra uma conta bancária ou um cartão nelas e, ao invés de usar o cartão na loja, usa apenas o smartphone", afirma Cernev.

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