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Publicado em 07/02/2019

BC mantém juro e defende cautela e serenidade (Valor Econômico)

Em sua primeira reunião do ano, o Comitê de Política Monetária (Copom) manteve a taxa de juros em 6,5% anuais pela sétima vez seguida, conforme expectativa consensual do mercado. Mas destacou que os riscos inflacionários arrefeceram desde dezembro. A taxa Selic está nesse patamar - o menor da história - desde março do ano passado.

Em comunicado divulgado ao fim da reunião, o colegiado apontou que o cenário externo permanece desafiador, mas com alguma redução e alteração do perfil de riscos. "Por um lado, diminuíram os riscos de curto prazo associados à normalização das taxas de juros em algumas economias avançadas. Por outro lado, aumentaram os riscos associados a uma desaceleração da economia global, em função de diversas incertezas, como as disputas comerciais e o Brexit", afirmou o colegiado.

Ainda assim, o Copom destaca que o balanço de riscos para a inflação segue assimétrico, com maior peso do lado desfavorável: a deterioração do cenário externo para economias emergentes e a frustração das expectativas sobre a continuidade das reformas. Do lado favorável à trajetória inflacionária, o Copom citou mais uma vez o nível elevado de ociosidade na economia.

Como na reunião anterior, de dezembro, o colegiado se absteve de dar indicações sobre seus próximos passos, destacando que eles continuarão dependendo da evolução da atividade econômica, do balanço de riscos e das projeções e expectativas de inflação.

Os membros do Copom repetiram a defesa de "cautela, serenidade e perseverança" nas decisões de política monetária, reiterando que essa abordagem tem sido útil para a manutenção da inflação em direção às metas. Também reforçaram a avaliação de que a conjuntura econômica prescreve uma política monetária estimulativa, ou seja, com taxas de juros abaixo da taxa estrutural.

"É um comunicado bem compatível com um presidente [do BC, Ilan Goldfajn] que está de saída e entregando o bastão para o próximo", afirma Luciano Sobral, economista do Santander. Para ele, "a não ser que o cenário ou o mercado mudem substancialmente, a Selic deve seguir em 6,5% em 2019".

Essa deve ter sido a última reunião do Copom de Ilan Goldfajn. Seu sucessor na presidência do BC, o economista Roberto Campos Neto, tomará posse assim que a indicação for aprovada pelo Senado Federal. A sabatina de Campos Neto na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado pode acontecer ainda em fevereiro, a depender do andamento do processo de nomeação do presidente e dos membros da comissão. O Copom volta a se reunir em 19 e 20 de março.

No comunicado, o Copom mais uma vez chamou atenção para a importância das reformas e de ajustes na economia para a manutenção da inflação baixa e para a queda da taxa de juros estrutural, destacando que a percepção de continuidade das reformas afeta as expectativas e projeções macroeconômicas correntes.

Na avaliação de Carlos Pedroso, economista sênior do banco MUFG Brasil, um corte da taxa de juros no curto prazo, como tem sido cogitado por parte do mercado, não parece estar nos planos do Banco Central. Um dos pontos que chamou sua atenção foi a ponderação feita no comunicado, de que o maior peso no balanço de riscos ainda é negativo, ou seja, a frustração com reformas ou a piora do cenário externo preocupam mais que a chance de inflação baixa demais.

"Muitos esperavam que teria mais neutralidade nesse ponto, mas o balanço de riscos ainda pesa mais para a inflação", afirma Pedroso. Outro ponto que reforça a leitura do economista é o destaque dado pelo Copom à "cautela, serenidade e perseverança nas decisões de política monetária, inclusive diante de cenários voláteis".

As projeções do Copom para inflação neste ano e no próximo permanecem abaixo das metas centrais de inflação para os períodos (4,25% e 4%, respectivamente), mas houve um ligeiro aumento da estimativa para o IPCA de 2020 em cenário que leva em conta as projeções do mercado (Focus) para câmbio e juros. O BC agora estima inflação de 3,8% nesse cenário no ano que vem, ante uma projeção anterior de 3,6%. Para este ano, não houve alteração na projeção, de 3,9%. Os membros do colegiado reiteraram ainda que os núcleos de inflação (que excluem os preços mais voláteis) estão em níveis "apropriados ou confortáveis".

Thaís Zara, economista-chefe da Rosenberg, diz que o Copom repetiu termos utilizados na ata da reunião passada e no relatório de inflação, no qual prega "cautela, serenidade e perseverança" na política monetária. "Isso é um sinal claro de que o comitê enxerga como melhor estratégia a manutenção dos juros por um tempo mais prolongado".

Nas condições atuais, pondera a economista, a indicação é de manter a Selic estável até, ao menos, o fim do ano. Uma frustração das perspectivas de aprovação de reformas, como a da Previdência, seria um risco de alta para a inflação e poderia levar à retomada do aperto. Mas, do mesmo modo, uma aprovação mais rápida da reforma da Previdência poderia ser um fator para criar condições de redução de juros.

O discurso adotado pelo Copom parece uma tentativa de afastar a probabilidade de corte de juros no curto prazo, na avaliação de Evandro Buccini, economista-chefe da gestora Rio Bravo. Até por isso, o mercado de juros futuros, que já carregava apostas de corte da Selic, pode enfrentar alguma correção nos próximos dias. "Tinha alguma expectativa de que seria mais 'dovish' [inclinado ao afrouxamento] do que parece ter sido. Devemos ver algum ajuste sobre o otimismo com os juros", diz.

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