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Publicado em 11/05/2017

Banco pode passar a lucrar com ‘desbancarização’ (Valor Econômico)

O Itaú Unibanco é um dos grandes beneficiários do processo de “desbancarização” com a compra de participação na XP Investimentos. Ao mesmo tempo, ainda se defende do avanço de um competidor com grande potencial de estrago, de acordo com analistas.

Com pouco mais de 25% do mercado de administração de recursos (de R$ 2,7 trilhões) e uma grande base de clientes de alta renda, o maior banco privado brasileiro é um dos mais afetados pelo crescimento da XP. A aquisição não estanca esse processo, mas em compensação o Itaú passa a abocanhar, ainda que indiretamente, um pedaço dos outros 75% que a corretora tirar da concorrência, segundo um profissional que falou sob a condição de que seu nome não fosse revelado. Os investidores reagiram de forma cautelosa à notícia. As ações do banco encerraram o dia em alta de 0,49%, enquanto que o Ibovespa subiu 1,62%.

O Itaú é o banco que vem se mostrando mais ativo na resposta ao crescimento da XP. No início do ano, foi o primeiro entre os grandes bancos a abrir a possibilidade de os clientes do segmento de alta renda (Personnalité) investirem em produtos de outras instituições, a exemplo do que fazem as plataformas independentes.

Após ampla campanha, a plataforma do Itaú registra, até o momento, uma captação da ordem de R$ 2,5 bilhões nos fundos sob gestão de terceiros, de acordo com informações de mercado. No geral, o banco acumula captação de R$ 9 bilhões em seus fundos. Embora não se trate de um resultado ruim, a avaliação é que a iniciativa não vinha se mostrando suficiente para barrar o avanço da XP. A captação foi concentrada em dois fundos que selecionam produtos de terceiros, mas sob gestão do próprio Itaú. “O banco parece não ter encontrado ainda o melhor modelo de como atuar como plataforma aberta”, diz um analista.

Antes da investida sobre a XP, executivos do Itaú defendiam que era possível competir com a corretora, que possui um modelo conhecido e até mesmo semelhante ao dos grandes bancos, embora pratique o discurso contrário. O entendimento era que o crescimento da companhia seria limitado pela escassez de bons ativos no mercado brasileiro.

A visão positiva dos analistas sobre a transação é compartilhada pelo investidor Guilherme Affonso Ferreira, da gestora Teorema. “[O banco] chega a um mercado em que nunca chegaria, numa operação que nenhum concorrente poderia fazer”, disse ele ao Valor. “Acho a operação excelente”, disse, ponderando que não sabe se o acordo será fechado, mas que acredita que os sócios da XP não terão alternativa melhor. As ações do Itaú representam a maior posição dos fundos da Teorema. Affonso Ferreira foi um dos maiores acionistas minoritários do antigo Unibanco.

Para gestores de recursos que têm negócios com a XP, um possível acordo com o Itaú só faria sentido se as operações da corretora fossem mantidas independentes. A avaliação é que esse modelo permitiria à XP continuar com a agilidade que um banco não tem na distribuição de produtos, ao mesmo tempo em que não criaria um conflito de interesses. “Acho que o Itaú deve manter os negócios separados e preservar as características da XP”, diz o profissional, que pediu para não ser identificado.

A distribuição de títulos de renda fixa, que inclui Certificados de Depósito bancário (CDB) e outros papéis de bancos de médio porte, e a parte de corretagem em renda variável respondiam por cerca de 68% do Ebitda (lucro antes de impostos, juros depreciação e amortização) da XP. A venda de fundos de terceiros representava apenas 5% desse resultado.

Embora não seja tão relevante para a XP, a área de gestão de fundos é uma das mais rentáveis para o Itaú. No ano passado, o banco faturou R$ 3 bilhões com administração de recursos. A migração de recursos para a XP, portanto, não é um bom negócio para o banco. “O Itaú pode deixar de ganhar uma taxa de administração de fundos, que na média fica em 2%, para ganhar apenas a taxa de distribuição de 0,5%”, observa um gestor.

A expectativa é que a negociação não afete a independência da XP na distribuição de produtos ou mesmo o custo da venda desses ativos. No entanto, pode acarretar mudança no modelo de remuneração dos agentes autônomos, que atualmente são os maiores distribuidores da XP. A corretora conta com 1.970 agentes autônomos, responsáveis por 55% da receita líquida da XP no primeiro trimestre deste ano.

As negociações entre Itaú e XP viraram o tema mais quente nos corredores do evento sobre fundos de investimento promovido ontem pela Anbima, associação que reúne as instituições do mercado de capitais. Ao participar do encontro, Flavio Souza, vice-presidente da Anbima e responsável pela divisão de gestão de riquezas do Itaú, evitou falar do assunto. Mas disse que, no processo de estabilização econômica do país, as plataformas abertas de investimento terão cada vez mais espaço.

A arquitetura aberta no setor de fundos é uma tendência irreversível, segundo Daniel Maeda, superintendente da Comissão de Valores Mobiliários (CVM). “As instituições que lutarem contra ela vão perder espaço no mercado”, afirmou. Para Carlos André, diretor da BB DTVM e presidente da comissão de fundos da Anbima, a arquitetura aberta se volta principalmente aos investidores mais sofisticados, enquanto que os demais devem continuar a ser atendidos com produtos de apenas um gestor.

O possível negócio entre Itaú e XP também virou assunto nas redes sociais, com investidores, aparentemente clientes da plataforma, mostrando descontentamento com a possibilidade de o banco comprar participação na XP.

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