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Publicado em 09/06/2020

As 'fintechs de verdade' e as que surfaram no sucesso do Nubank (Tecmundo)

Na minha última coluna, mencionei como a criação do conceito de “Instituição de Pagamento”, no fim de 2013, mudou profundamente o mercado financeiro nacional. Por meio dessa regulamentação, o Banco Central do Brasil eliminou a enorme barreira de entrada para oferta de contas digitais e de serviços de pagamento. 

Montar um banco no Brasil, e em boa parte do mundo, exige muito investimento e é um processo bastante complexo e demorado. Por outro lado, para criar uma Instituição de Pagamento, basta abrir uma empresa com esse propósito, notificar o Banco Central e iniciar as suas operações, sem necessidade de autorização prévia. Obviamente, à medida que o volume de transações aumenta, existe uma série de obrigações que essas empresas precisam cumprir de forma a garantir a segurança e a proteção dos recursos financeiros que gerenciam. 

Em suma, o marco regulatório brasileiro proporciona, de maneira exemplar, um equilíbrio entre incentivo à inovação e manutenção da estabilidade do sistema financeiro. 

No Brasil, mais de uma centena de startups competem nesse novo mercado e já há casos muito bem-sucedidos

No Brasil, mais de uma centena de startups competem nesse novo mercado e já há casos muito bem-sucedidos, como NubankPicPay e Neon. Esse tipo de startup faz uso intensivo de tecnologia para oferecer serviços financeiros (daí o termo “FinTech” = Financial + Technology), de maneira mais barata e conveniente para a parcela da população que estava à margem ou era mal atendida pelo oligopólio dos grandes bancos. Tais startups são representantes de destaque das “Fintechs puras” (“pure Fintechs”), que surgiram logo após a abertura desse mercado.

As surfistas

Recentemente, observamos o surgimento de uma segunda geração de competidores: as “Fintechs embarcadas” (“embedded Fintechs”). São Instituições de Pagamento (“spin-offs”) que fazem parte de grupos econômicos com atuação em outros setores da economia: varejo, indústria de consumo, telecomunicações, saúde etc. 

Por sinal, as Fintechs embarcadas de grupos varejistas (supermercados, lojas de departamento, venda direta, franquias etc.) apresentam uma posição bastante privilegiada nessa disputa, pois:

- possuem marca e reputação bastante sólida perante as classes econômicas C, D e E, requisito fundamental para quem pretende guardar e gerenciar dinheiro de terceiros;

- dispõem de uma rede de lojas físicas (ou de vendedores porta a porta) que representam ainda um importante canal “offline” para relacionamento com os clientes (por exemplo, para saque ou depósito de dinheiro em espécie).

- podem utilizar a Fintech embarcada para alavancar suas vendas, ampliando o acesso a crédito via financeira própria (Realize/Renner, Midway/Riachuelo, Pefisa/Pernambucanas etc.) ou através de parcerias com outras instituições (“marketplace de crédito”), por exemplo;

- à medida que o seu mercado consumidor amadurece (“financial deepening”), podem oferecer produtos de terceiros para esse público (seguros, previdência, financiamentos etc.). Em outras palavras, além de venderem geladeiras, roupas, perfumes, alimentos, entre outros itens, poderão incluir financiamento de automóvel, seguro de vida, CDB etc. ao seu portfólio. 

Em termos de modelo de negócio, as Fintechs embarcadas normalmente levam vantagem, já que têm um Custo de Aquisição de Clientes (CAC) mais baixo e podem obter maior valor por cliente (“Lifetime Value”, LTV), pois também oferecem produtos e serviços não financeiros.  Exemplificando, quem tem um CAC menor para serviços de conta digital: um varejista que já possui um aplicativo de e-commerce com milhares (ou milhões) de usuários ativos ou uma Fintech pura?

Pernambucanas, Magazine Luiza, B2W, Via Varejo, OLX,  criaram as suas Fintechs embarcadas

Assim, não é por acaso que Pernambucanas, Magazine Luiza, B2W, Via Varejo e OLX criaram as suas Fintechs embarcadas. Apesar de enfrentarem competidores já estabelecidos, se essas empresas alavancarem as vantagens descritas acima com estratégias de engajamento apropriadas para seu público (cashback, programas de fidelidade, ofertas customizadas, acesso a crédito, e-wallets), certamente irão se tornar protagonistas nesse novo mundo dos serviços financeiros.

De qualquer forma, é bom reforçar que os varejistas não estão sozinhos na segunda onda de Fintechs. Grupos econômicos de outros setores também estão se movimentando em busca de nichos para as suas Fintechs embarcadas. Por exemplo, a AB Inbev anunciou recentemente a criação da Donus, conta digital que oferecerá aos seus milhares de pontos de venda (pequeno comércio).

Temos ainda o MercadoPago do Mercado Livre, o iti do Itaú, Banqi da Via Varejo e o Banco Inter atrelado à MRV.

Quem vencerá? As fintechs puras, normalmente mais ágeis? As fintechs embarcadas, que possuem vantagens competitivas importantes? Uma combinação das melhores de cada geração? Ou os bancões conseguirão se reinventar e defender o seu protagonismo?

Saberemos a resposta nos próximos anos, mas um ponto é certo: cidadãos e empresas serão os grandes beneficiados por esse aumento de concorrência no mercado financeiro nacional!

Alexandre Pinto, autor desta coluna quinzenal no TecMundo, é Diretor de Inovação e Novos Negócios da Matera e especialista em Open Innovation. Na empresa desde 2001, foi responsável pela criação da área de P&D e do seu ecossistema de parceiros. 

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