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Publicado em 19/01/2017

Aposta tecnológica de cartões terá fraca demanda este ano (DCI)

O mercado de cartões projeta fraca demanda por tecnologias em 2017 e volume ainda baixo na emissão de vestíveis e pagamentos sem contato. Investimento do setor tende a ser focado em "base educacional" e adaptação regulatória dos meios de pagamento.

Apesar da forte aposta em inovações tecnológicas em 2016, com vestíveis de pagamentos, adaptação de dispositivos e parcerias para expansão de carteiras digitais, executivos do setor questionam potencial de crescimento dessas ferramentas para este ano.

De acordo com Frederico Souza, diretor de produtos da Rede, existe uma baixa demanda na utilização de pagamentos com NFC (sigla em inglês para Near Field Communication, pagamento por aproximação) ou sem contato (contact less).

"Estamos substituindo as máquinas conforme a procura, mas ela ainda é muito baixa. Desta forma, é difícil esperar que 2017 já se crie uma característica de hábito nos consumidores para o uso dessas tecnologias", avalia o executivo.

Nesse sentido, o principal obstáculo para esses meios no País é "a complexidade" do pagamento para os consumidores no varejo brasileiro.

Perguntas feitas comumente pelos lojistas, desde se o cliente quer o CPF na nota fiscal até em quantas vezes deseja parcelar suas compras, impossibilita a experiência de rapidez e praticidade pregada pelo mercado no lançamento das tecnologias.

Segundo Percival Jatobá, vice-presidente de produtos da Visa, apesar da estimativa de que "2017 não alcance números estratosféricos de devices", o setor precisa focar na disponibilização dos novos aparelhos.

"Estamos em uma fase de querer sistematizar o processo de emissão nos nossos lojistas e deixa-los prontos para a utilização", afirma o executivo, completando que a escala "virá com o tempo".

"Temos que entender que, agora, estamos em uma fase de adaptação e deveremos ver essa revolução aparecer cada vez mais no mercado", ressalta Jatobá.

Troca de comportamento

O último Relatório de Vigilância do Sistema de Pagamentos, divulgado pelo Banco Central no ano passado a respeito de 2015, aponta que a quantidade de transações por dispositivos móveis mais do que dobrou em relação a 2014, atingindo 20% da quantidade total de transações.

Só no Itaucard, por exemplo, o uso dos dispositivos móveis saiu de 11% em 2015 para o correspondente a 20% em 2016. O problema, no entanto, está na aprovação das transações.

"O universo da internet aprova 60% das transações contra 95% na agência física porque, de fato, existe todo um risco envolvido na transação remota, com fraudes e más utilizações dos clientes", comenta Rubens Fogli, diretor de negócios digitais do Itaú Unibanco.

Na opinião de Valério Murta, vice-presidente de produtos da Mastercard, porém, apesar de todo o ecossistema ainda precisar de meio de adesão e adaptação, o foco em segurança e controle pode dar espaço para o segmento de cartões crescer.

"Estamos conseguindo endereçar o controle das opções ao consumidor, e isso tende a dar novas perspectivas para que esses instrumentos sejam adotados mais rapidamente", afirma.

Os executivos ouvidos pelo DCI, no entanto, reforçam que a importância do atual momento do mercado está em proporcionar uma "base de treinamento" para os lojistas e clientes.

"A tecnologia não é o problema, mas, sim, a mudança de comportamento, de ofertar o produto e de desenvolver as atitudes necessárias para os aparelhos. A indústria está madura e segura de que deverá investir na capacitação dos estabelecimentos. Isso será fundamental para conseguirmos ganhar corpo nessa área", acrescenta Jatobá, vice-presidente da Visa.

'Perigo de calote'

Outro ponto a ser destacado é que, com as mudanças propostas pelo governo em relação à redução do prazo de repasse dos pagamentos para lojistas e redução dos juros rotativos, que em novembro marcaram 363% ao ano para pessoas jurídicas e 482,1% para pessoas físicas, o mercado mostra cautela.

"O aumento de inadimplência é uma preocupação e tudo precisa passar por uma discussão. Nem sempre o que é proposto é um modelo de negócio. Se o empreendimento comportar o perigo de calote, tudo bem, mas não deixa de ser a assunção do risco de outro", avalia José Renato Simão Borges, presidente da administradora Credz.

Além disso, o executivo comenta que essa situação implicaria no mercado de cartões "trabalhando mais e com muito mais prejuízo". "É preciso ter consciência do risco e aceitar trabalhar muito mais para superá-lo", diz Borges.

Ascenção pelo débito

Frente ao cenário de crise, no entanto, o processo de digitalização dos meios de pagamentos e o maior uso de mobile para transações pode ter um viés positivo para sanar parte dos critérios de risco e inserir novos consumidores no mercado.

Para além da migração do plástico para o digital, há um forte espaço de crescimento do cartão frente o dinheiro, principalmente pelas classes mais baixas que, com as facilidades oferecidas, conseguem uma adaptação mais fácil.

"É uma ferramenta de acesso a produtos e serviços financeiros da baixa renda, principalmente, frente a um momento de crédito restrito. Além disso, é a saída para as redes de varejo tentarem aquecer as vendas", afirma o executivo da Credz.

Da outra ponta, os consumidores já endividados têm evitado comprar no parcelado que, segundo dados do Banco Central, apresentou juros em 35% ao ano para pessoas jurídicas e 155% a.a. para pessoas físicas.

"O débito tem aumentado e continua a ser uma perspectiva interessante para o setor. No entanto, enquanto não conseguirmos equilibrar o lado dos emissores e adquirentes com a vantagem para o cliente, não tem como acontecer uma migração mais forte", avalia Fogli.

Os últimos dados da Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços (Abecs), de setembro, mostram aumento de 9% no volume de transações em relação a igual mês do ano passado (de 926.237 mil transações para 1.010 milhões). Do total, o débito cresceu 10,6% (de 490.208 para 542.640), frente alta de 7,2% do crédito (de 436.029 para 467.510) na mesma comparação.

"A aposta nos meios tecnológicos no setor, porém, continua e já para o primeiro trimestre de 2017", conclui o diretor do Itaú.

Isabela Bolzani

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